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domingo, 21 de outubro de 2012

A procissão dos desesperançados

Caminhavam os homens e mulheres pela cidade sem luz. Não havia esperança, nem profetas que conheciam outros caminhos. Ninguém tocava música nas estradas. Poetas não se manifestavam. Algo talvez pudesse acontecer que impedisse que aquelas criaturas caissem no abismo! Se o autor deste relato pudesse ficcionalizar e tivesse criatividade para isso, algo aconteceria: as estrelas embelezariam a noite ou quem sabe os galos soltassem a voz. Mas tudo é silencio, desesperança, copos vazios, chaves sem porta, se ao menos algum deles soubesse o poema E agora José, mas tudo é vazio, desespero. Eu que vos narro tenho que me juntar à procissão desesperada. Os leitores se quedam sem notícias dos que desistiram. Oxalá, jamais se juntem a nós.

Se fosse poeta

Se fosse poeta
As manhãs não seriam tão cinzas
As chuvas não lembrariam tanto o fim do mundo.
O letrista de rock canta a garota, o automóvel, a incompreensão e a liberdade e é amado por milhões.
O poeta intelectual dialoga com teóricos e supera os predecessores.
Quanto a mim, por que me coube ser Quasímodo?
Por que os versos das lamentações de Jó são os únicos que me dizem respeito?
Só conheço desta vida a prosa, seca e envenenada.
A poesia é algo que está numa névoa distante.

Migração

As aves agourentas também migram.

sábado, 20 de outubro de 2012

Quando

Quando não adiantar ouvir Let it be
Quando os galos estiverem mudos
Quando as noites forem de trabalho
Quando  tiveres decorado o terceiro capítulo do livro de Jó
Conte comigo.
Não entendo de viagens ou de automóveis
Porém sei o que sentes.

Histórias que levam além


 Minha avó sempre me contava histórias de outros tempos e outros mundos. Adorava as
dos gênios das lâmpadas, que, libertos depois de séculos, colocavam em ação todo o seu
potencial criativo. Um dia, um tio carrancudo disse que minha avó havia morrido. Desde esse
dia, estou preso na minha lâmpada.