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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Pequena vida

Em sua pequena vida ainda não conheceu o amor. Ele é uma criança com alguns cabelos brancos. Não viu os jardins flutuantes. Não viu as estrelas beijarem o chão. Não ouviu a Bob Dylan, com o vento e o  tamborim. Todos os dias saindo para trabalhar, enxergando as coisas em preto e branco. Sem saber dos peixes que pulam nas redes e dos tesouros que procuram quem seja capaz de possuí-los.
A vida o aguarda. Os carnavais adormecidos não cobrarão juros. Seus solitários planos encontrarão quem possa compartilhá-los. A chuva lavará almas e ruas. A luz entrará por frestas, o que precederá o advento das janelas. Ele nascerá outra vez, muitas vezes tornará a morrer, mas o que importa é que as fotografias do paraíso permanecerão bem guardadas.

Não corrigirás

Não corrigirás
Tua miopia e teu astigmatismo
Eternos são.
O mundo para ti é fosco

Usarás lentes grossas
Sustentadas por pesadas armações
Terás as marcas dos óculos em tua face
À Genética pertence a soberania
                        *

Mas talvez você tenha outros olhos para ver
Olhos que verão as cores
Em suas melhores versões
Olhos que encontrarão a perfeição platônica
Olhos para estar entre os verdes, azuis, lilases,
Amarelos e amanheceres
 
Talvez.
Você sempre terá o talvez.


Meditando

Estrelas dentro de mim
Rios de sorrisos

Cascata de nuvens azuis

Nenhum filme do mundo
Pela beleza que há em nossos interiores

Exploradores de nós mesmos
O nada é o tudo
Quando o mundo é silenciado
O que importa é escutado

Raios de suavidade
Estamos dentro da terra
Acima do chão
Dentro da escuridão
Iluminados...

Estrelas dentro de mim
Rios de sorrisos...

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Da solidez

Já disseram que a realidade é líquida
A poesia é feita por palavras
Que relacionadas podem se tornar sólidas
Como a arquitetura

O poema pode ser uma casa
Para o leitor morar
Um abrigo
Mas também um espaço
Para conspirar, respirar, inspirar
Transpirar,conjurar

Uma casa com todas as tecnologias
Confortos e iluminações
Para o leitor ser mais o que é.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Últimos dias

Serão estes os últimos dias
A catástrofe final se avizinha.
Talvez

A vida ainda sopre suas cores
Os mares ainda cantem
E o verde ainda escape do capital

Últimos dias
São os nossos para se anunciar o fim dos tempos
Quando não houver mais tempos
Saberemos deixando de saber
O que pensávamos que sabiamos
Hoje as lutas permanecem
Não é a hora de esperar
A Grande Tragédia

O Caos sempre  esteve entre nós
Viver é juntar os cacos
E ás vezes construir belas taças.

Caos urbano

Esperou durante muito tempo pela Grande Revelação. Desafortunadamente, o trânsito o impediu de assistir ao capítulo da telenovela.

Inspiração

Era um poeta que escrevia o que ouvia da boca dos anjos. Infelizmente, muito se perdia na tradução para língua dos homens.

domingo, 18 de agosto de 2013

O mundo dos seres mutilados

Naquele mundo, naquela galáxia distante de nós, os seres eram todos incompletos. Os cães possuíam três pernas, os crocodilos não tinham cauda, os bois não mugiam, os humanos não tinham braços e assim por diante.
Tudo porque o Criador daquele planeta, não conseguia terminar suas obras. Era um deus problemático, que iniciava os trabalhos, porém não os concluía.
Um dia, o Criador daquele mundo sentiu uma forte depressão, por se sentir um deus incapaz. Os outros deuses zombavam dele, nas convenções dos Seres Supremos.Além disso, ele julgava que o mundo, criado por ele, era feio e triste.
Sentado numa sarjeta de seu mundo incompleto, o demiurgo foi abordado por um mendigo, que naquela terra inacabada não tinha mãos para recolher as esmolas. O pedinte disse:
_Por que está triste, forasteiro?
_Porque sou um criador frustrado, não consigo completar as minhas obras. Todas as minhas criaturas são seres mutilados.
_Mas quem é perfeito?
_Ora, os deuses de outros mundos criam muitas criaturas completas, perfeitas, seres humanos com cabeça, troncos e membros, tigres com caudas, pelos e presas mortais e assim por diante.
_Mas eles lá têm mais partes que nós e nós temos menos que eles e isso que é bonito. Porque os mundos são diferentes e os viajantes, os que podem, vão por aí e descobrem coisas diferentes, nem melhores e nem piores, mas diferentes!
O deus daquele mundo sentiu-se como iluminado e voltou para o seu ateliê de Criação, continuando os trabalhos “incompletos” e rezando para que aquele mendigo tenha razão.

O pianista

O pianista quando toca enche de azul os céus,transforma o Infinito em melodia, civiliza os ódios, torna audível a fala dos anjos, semeia árvores e amores, purifica mares, vence a morte, reinventa a vida, reconstrói a escada de Jacó...
Entretanto, o pianista em sua vida privada é um homem duro e inflexível, que despreza a vida e a humanidade. (Porém, ás vezes chora na solidão)
Ah! Mas quando toca...

sábado, 10 de agosto de 2013

O jardineiro

O poeta canta os jardins, as flores, as borboletas, os perfumes...
O jardineiro trabalha cuidando de jardins alheios, trabalha muito, ganha pouco, é analfabeto e não conhece a Poesia. Mora longe e sempre chega em casa exausto. ( Mas sonha que seu neto será Doutor e poderá ler todos os Livros do Mundo)